Atravessando lugares indelevelmente masculinos, nos seus elementos e memórias, que criam um ambiente bruto, pesado e dominador, reimagina-se a paisagem, propondo-se uma visão alternativa. Esta vai subtilmente medrando em pontos de luz onde assoma uma figura feminina que desafia e transcende a paisagem.
Podia dizer-se, assim, que a mulher na paisagem afirma o seu lugar nestes lugares e nesta paisagem, apropriando-se deste espaço e mais além, posicionando-se ativamente para desafiar sistemas opressivos, simbolizando uma força transformadora poeticamente esculpida na fotografia.
Objetivamente, não chega: a figura feminina continua a ser uma mulher fotografada por um homem. Uma proposta entra em ação durante o processo: ficará em segredo, para já. O que veremos ao longo desta série é todo esse processo, sem filtros. A realidade possível: um feixe de luz no coração de luz.
Rio em silêncio. O Tejo, não eu. O azul da água contrasta com o peso da paisagem: as fábricas, a maquinaria, os armazéns, as obras abandonadas, os contentores, um cais que cai, uma mini e um cigarro na mão de um rosto com as marcas da vida e do Rio. Em silêncio, nesse rosto projeta-se este lado da cidade, onde tudo é bruto, pesado e masculino. E se não fosse assim?
Manuel Castro, dezembro de 2024.











Marina Abreu, dezembro de 2024






